Novas ferramentas ajudam candidatos a achar a empresa ideal

Fonte: Site do Valor Econômico, por Letícia Arcoverde.

Busca pelo emprego dos sonhos é o foco do 99jobsNão é apenas na vida amorosa que se busca um parceiro que combine com a sua personalidade e torne o relacionamento o mais prazeroso e duradouro possível. Na carreira profissional, todos também estão em busca do par perfeito. É nisso que aposta um conjunto de sites de recrutamento, recém-surgidos no mercado brasileiro, que se posicionam como ferramentas não apenas para candidatos encontrarem vagas, mas para acharem sua empresa ideal.

É consenso hoje que o profissional certo apresenta, além de competências técnicas, compatibilidade com a cultura organizacional da empresa. Mais do que ajudar as companhias na busca de um funcionário com esse perfil, no entanto, esses sites colocam poder na mão dos próprios profissionais na hora de decidir onde trabalhar. A receita é o acesso a informações mais transparentes e menos oficiais sobre como realmente é atuar na organização, com base em depoimentos de atuais e ex-funcionários. Por meio do cruzamento de dados acontece também, muitas vezes, um empurrãozinho dos próprios sites para ajudar a promover um "casamento" entre o candidato e a companhia.

Para Rafael Souto, CEO da consultoria de planejamento e transição de carreira Produtive, esse fenômeno é fruto de um mercado de trabalho próximo do pleno emprego, que permite que o afinamento entre perfil profissional e o lugar onde a pessoa vai atuar seja cada vez mais valorizado por ambos os lados. "O processo de aprender a escolher a empresa mais adequada é um fenômeno recente. Antes, as pessoas não tinham essa possibilidade", diz. Segundo ele, é essencial perceber que não há um lugar "bom" ou "ruim" - tudo depende do perfil e dos objetivos de quem procura, além de características mais específicas da vaga buscada. "Estimulo sempre os candidatos a também entrevistarem a empresa durante um processo seletivo", diz.

Nesse sentido, sites criados no último ano, como o 99jobs, o Pin People e o Love Mondays surgem como novas fontes de informação. Ainda que voltados para públicos diferentes e com metodologias um pouco distintas, o objetivo é o mesmo: aumentar a percepção dos candidatos de como é, de fato, trabalhar na empresa almejada e ajudar na busca por um trabalho que seja mais do que uma forma de subsistência.

A busca pelo emprego dos sonhos está no centro do negócio do 99jobs, plataforma voltada para jovens em início de carreira que tem como slogan "faça o que você ama". Lançado em maio de 2013, o site usa um algoritmo desenvolvido pelos fundadores para identificar, com base nas características dos profissionais e em informações das empresas, se há alinhamento entre o candidato e a companhia. "Muitas vezes, o entendimento de como é o universo das pessoas com quem ele vai trabalhar é mais importante do que o que ele vai fazer", diz Bárbara Telles, diretora de relacionamento e sócia da startup.

Mais do que uma simples análise do currículo, o processo se dá por meio de informações como atividades extracurriculares adotadas pelos jovens, preferências expressas em redes sociais e em um questionário respondido ao se cadastrar no site. Já os aspectos da empresa são detalhados anonimamente por resenhas de funcionários ou ex-funcionários e por pesquisas da própria equipe do 99jobs.

Com mais de 200 mil usuários e 900 empresas inscritas, a plataforma hoje foca vagas de estágio, trainee e cargos iniciais. A Votorantim e o Citibank, por exemplo, já promoveram seus programas de trainee com a empresa, hoje formada por 13 jovens de até 30 anos. Ao analisar os candidatos, os recrutadores têm acesso a uma espécie de mural, ao invés do currículo, que destaca aspectos comportamentais no lugar de dados como o nome da faculdade onde o jovem estudou ou estágios anteriores.

Segundo Bárbara, isso permite que o processo aconteça com a participação de uma quantidade menor de candidatos, porém mais focados nas exigências da empresa, e espanta alguns mitos dos recrutadores, como a exigência de que suas contratações venham de um número restrito de faculdades renomadas. A resposta das companhias, segundo ela, tem sido positiva. "Existe uma provocação da geração que pode escolher trabalhar por prazer, e há uma mudança do mercado, que percebe que o que ele fazia no recrutamento não é mais tão efetivo", diz.

Com proposta parecida, o Pin People pretende atingir um público mais sênior, oferecendo vagas para profissionais entre 25 e 35 anos que estejam começando a ter papel de liderança e investindo em pós-graduações como MBAs ou mestrados. Lançado no fim do ano passado pela administradora de empresas Isabella de Arruda Botelho, de 26 anos, o negócio se inspirou em plataformas estrangeiras, entre eles o site de namoro eHarmony.

"Se é possível encontrar 'o homem certo', também é possível achar a empresa certa para o candidato", explica Isabella. Ao se cadastrar no Pin People, o candidato responde a um questionário que identifica aspectos como sua maneira preferida de trabalhar no dia a dia e suas aspirações de carreira no longo prazo. Em alguns dias, o profissional recebe por e-mail um relatório com suas características mais relevantes, os perfis de empresa que combinam com ele e dicas de leitura.

Do outro lado do processo, as empresas que fazem uso do site, por meio do pagamento de uma mensalidade, precisam rodar um questionário anônimo sobre o trabalho na companhia para uma amostra de funcionários de diversos níveis e áreas. O cruzamento das informações coletadas nas empresas com as vagas anunciadas por elas e os perfis dos candidatos indicam as melhores combinações. Atualmente, quatro companhias já estão rodando projetos-piloto com seus funcionários e Isabella está em contato com pelo menos outras 30 interessadas. "Conversamos com todos, de startups a multinacionais, para ter opções para candidatos de perfis diversos", diz.

Na busca por um novo emprego, a diretora de assessment e outplacement da consultoria Career Center, Claudia Monari, diz que o primeiro passo é se conhecer a fundo, identificar seus objetivos de médio prazo na carreira e entender o que busca na vida corporativa. Em seguida, devem-se adquirir informações sobre as vagas e companhias desejadas. "É igual casamento, você nunca sabe ao certo até casar com a pessoa."

Para Souto, da Produtive, é preciso ficar atento ao fato de que qualquer informação adquirida durante um processo seletivo é parcial. "A pessoa está se vendendo, e a empresa também. Ela quer encantar", diz. Por isso, diz o consultor, a melhor maneira de decidir é complementar as informações recebidas com conversas com funcionários, headhunters e ferramentas da internet - sempre com o cuidado de observar a área e o nível dos profissionais ouvidos e não generalizar as informações.

Tornar mais fácil o acesso à informação sobre as companhias é o objetivo do Love Mondays, lançado na metade do ano passado. "Em uma entrevista de emprego, a empresa sabe muita coisa sobre você", diz a cofundadora e CEO da startup, Luciana Caletti. "O profissional, porém, tem acesso restrito a informações ao decidir se a companhia é certa para ele". No site, é possível avaliar como é trabalhar em cerca de 250 companhias, de forma anônima. As informações podem ser acessadas por área, nível ou cidade. "O site transforma a cultura e os valores da empresa em aspectos tangíveis e mostra como isso se traduz no dia a dia", explica.

Voltado para profissionais jovens, mas que não estejam no primeiro emprego, o site oferece principalmente vagas de analista, coordenadores e gerentes. Gratuito para usuários, o serviço é pago pelas empresas, que mantêm um perfil na plataforma e podem anunciar vagas. Mas elas não têm como controlar as avaliações dos funcionários que são adicionadas à página. "Há pesquisas que mostram que produtos com avaliações boas e ruins vendem mais do que aqueles que só têm avaliações boas. Isso dá credibilidade", diz Luciana.

Enquanto os profissionais se beneficiam de um acesso cada vez maior a informações, as empresas precisam se adaptar - embora nem todas tenham a maturidade para ver as vantagens de dar mais autonomia para os candidatos. "Elas precisam estabelecer um diálogo. Assim, o risco de a contratação dar errado diminui", diz Souto. Na opinião de Claudia, a partir do momento em que as companhias percebem que esse contexto é positivo também para elas, passarão a "abrir mais o jogo" durante processos de recrutamento e seleção. "É muito mais fácil ensinar conhecimentos técnicos do que mudar comportamentos", afirma.