"O interessante da vida é a tarefa da vida" - Adélia Prado

Fonte: www.ultimosegundo.ig.com.br, por Luísa Pécora, de Poços de Caldas, em 04/05/2014

Adélia Prado no Festival Literário de Poços de CaldasAos 78 anos, Adélia Prado não descansa. Uma das principais atrações do Festival Literário de Poços de Caldas (Flipoços) deste ano, Adélia Prado era anunciada pelos corredores do evento como "a maior poeta viva do Brasil". Quando a reportagem do iG encontrou a escritora, momentos antes da palestra que concedeu no Flipoços na noite de sábado (3/5/14), perguntou o que ela achava do título.

"A maior viva?", disse. "Viva, a gente não precisa ser maior de nada. Viva já tá bom, né?"

Foi com o mesmo bom humor que Adélia falou ao público sobre afeto, o tema escolhido por ela mesma, e mostrou não ter nenhum tipo de aposentadoria em seus planos.

"Nascer é ser convocado para a guerra. Preciso de toda a minha energia porque não esgoto nada", afirmou. "Não tem um momento da vida em que você fala: 'Estou pronto'. O interessante da vida é a tarefa da vida. É muito excitante estar vivo."

Em dezembro, mês em que completou 78 anos, Adélia lançou "Miserere", livro de poemas sobre temas como envelhecimento, mulheres, religião e até Steve Jobs.

Católica, Adélia nasceu e ainda vive em Divinópolis (MG), a cidade onde disse ter passado pelas primeiras "experiências poéticas", mesmo sem reconhecê-las. A carreira começou nos anos 1970, quando enviou poemas para o crítico literário Affonso Romano de Sant'Anna, que os repassou a Carlos Drummond de Andrade. "Ele disse que eu era poeta. Aí eu descansei."

Veja os principais trechos da palestra de Adélia Prado no Flipoços 2014:

Poesia

"A poesia é um dom capaz de formalizar a presença da beleza. É um olhar afetivo."

Maus afetos

"Uma vida humana que valha a pena só é possível com o lado pior de nós: os maus afetos. É só enfrentando e aceitando quem sou que de fato dá para ser feliz. E se aceitar é a coisa mais difícil do mundo. Se for mulher, é quase impossível."

Amor

"A saída é amar. O amor é o descanso do guerreiro. A alma que ama está descansada. E amor é atitude. A gente deve falar o mínimo possível."

Fama e prestígio

"Não me afetou em nada. E não é virtude minha, nasci protegida contra isso. Graças a Deus isto não me toca. Ficar vigiando essas coisas, cuidando para que elas nao acabem...isso é canseira."

Morte

"A coisa mais simples que eu quero é não morrer, é ser imortal. No céu, não na Academia Brasileira de Letras. Lá o que mais tem é morto. Tem muita gente velha."

Academia Brasileira de Letras

"Não está no meu horizonte"

Carlos Drummond de Andrade

"Eu queria um aval, queria saber se eu era poeta mesmo. Ele disse que eu era poeta. Aí eu descansei."

Guimarães Rosa

"Só não li o que ele não escreveu. Tudo o que é possível falar sobre Minas Gerais está ali. É a mineiridade sem bairrismo, sem chatice, sem pão de queijo. É a alma da mineiridade. É maravilhoso, não tenho outra palavra. É universo. Ele e Drummond são os maiores.

O poema sobre Steve Jobs

"Não lido com eletrônicos. (O que me chamou a atenção) foi o lado pessoal dele. Ele tinha uma ânsia por beleza muito grande. Isso é uma coisa poética. Ele queria humanizar aqueles aparelhos, queria que gostássemos dele. É afeto."

Papa Francisco

"Acho que ele tem muita sensibilidade. A podridão da Igreja está boiando, o que é uma graça divina. Ele está tendo a coragem de botar isso a limpo. Acho o papa perfeito para a época que estamos vivendo."

Futuro

"Enquanto tiver gente escrevendo poesia, acho que está salvo. O que vai fazer o Brasil não é a crônica política. Isto não é o Brasil, não somos nós. Essa coisa sem carne, sem vida, sem imaginação. A gente tem que lutar contra isso. É sinal de vida ver uma sala como esta, cheia de gente que veio ouvir poesia. E quando leio um livro do Drummond, por exemplo, ele está sendo um espelho para mim. Eu penso: 'Mas como ele sabe o que eu sinto?'. Isto é sanidade, é saúde, é alimento espiritual. Enquanto tivermos isso, tem salvação."

O que está lendo

"Estou relendo 'O Arquétipo Cristão', de Edward F. Edinger, e 'A Negação da Morte', de Ernest Becker, que releio sempre. São livros que me tocaram, que me alimentam. Tem muita coisa boa para ser lida ainda."

Conselho para jovens escritores

"Paciência. E ler bastante."

Veja a entrevista de Adélia Prado no Programa Roda Viva da TV Cultura, em 24/03/2014:

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