Cenários botânicos explosivos expostos em Miami - Beatriz Milhazes

Fonte: The Wall Street Journal, por Kelly Crow, em 24/09/2014

Beatriz Milhazes teve a tela O Mágico, criada em 2001, vendida por US$ 1,049 milhão, em 2008, para um colecionador de Buenos Aires, um recorde para um artista brasileiroOs cenários botânicos explosivos de Beatriz Milhazes têm sido cobiçados pelos colecionadores de toda América do Sul e Europa há muitos anos, mas, em 19/09/2014, a pintora brasileira abriu sua primeira exposição solo num museu americano, o Pérez Art Museum Miami.

A exposição marca a abertura oficial do museu, o antigo Miami Art Museum, que ganhou um novo nome ao mudar para o elegante prédio desenhado pela firma suíça de arquitetura Herzog & de Meuron, no ano passado. O PAMM já realizou várias exposições coletivas desde então, mas o "Botânical Garden" (Jardim Botânico), de Beatriz Milhazes, será a primeira retrospectiva solo realizada pelo museu, sob a supervisão do seu curador-chefe, Tobias Ostrander.

O curador disse que escolheu Milhazes porque suas pinturas de flores sobrepostas, listras e folhas se abrindo provavelmente vão se identificar com o público no clima de Miami — particularmente com a crescente comunidade brasileira.

A exposição de 50 obras também acontece num momento em que a artista parece estar se afastando de seus buquês característicos, em direção a composições que exibem mais formas geométricas e linhas retas. "A arte de Beatriz foi sempre sensual e estonteante, uma sobrecarga sensorial", diz Ostrander. "Ela está migrando cada vez mais para formas puramente geométricas."

De um ponto de vista mercadológico, a decisão dela pode ser arriscada. Durante os últimos dez anos, os grandes colecionadores gravitaram em torno de suas combinações "mais é melhor" — em parte porque a alegria de suas telas parecia combinar com a ascensão econômica do Brasil. Em maio de 2008, o colecionador Eduardo Costantini, de Buenos Aires, pagou US$ 1 milhão à Sotheby's por uma obra da artista com tonalidades do arco-íris: "Mágica", de 2001. O valor foi o triplo da estimativa mais elevada. A pintura estará na exibição do PAMM, juntamente com obras floridas emprestadas por grandes colecionadores como o editor alemão Benedikt Taschen, a filantropa austríaca Francesca Von Habsburg e o lobista americano Tony Podesta.

No seu estúdio no Rio de Janeiro, Beatriz Milhazes diz que sua mudança em direção à abstração seria o equivalente artístico a voltar para casa — porque a história do Brasil no século XX se articula fortemente com a geometria. Milhazes, que cresceu durante a ditadura militar, diz que raramente seus colegas conseguiam ver arte contemporânea. Mas sua mãe era uma professora de história da arte, então ela aprendeu sobre as recentes tendências artísticas do Brasil. Sua família reverenciava os pintores modernistas brasileiros da década de 30, mas a cena artística local nos 60 tinha tudo a ver com o neoconcretismo, um movimento que exaltava a arte que fazia uso dos princípios da geometria ou do movimento, em vez de cobrir a tela com pinceladas. Entre as estrelas do neoconcretismo estão Lygia Clark, que cortava pedaços de alumínio para fazer esculturas semelhantes ao origâmi (a arte japonesa de dobrar papel), e Lygia Pape, que amarrava fios de ouro para criar instalações em forma de caminhos com obstáculos.

Ela conhecia esses artistas neoconcretos, mas ansiava por pintar. Sua primeira paixão artística foi Henri Matisse. Na universidade, ela estudava jornalismo durante o dia e fazia aulas de arte à noite, e se deleitava em criar colagens com pedaços de tecidos e papel colorido. Ela participava dos desfiles do Carnaval no Rio de Janeiro, de onde tirou a inspiração para a efusão de babados e ondas. Sob os auspícios de seus pais, ela começou a pintar flores com arabescos rendados, em vibrantes tonalidades fauvistas — mas, "Eu sempre me senti uma forasteira", diz ela.

Seus métodos de pintura também se diferenciavam. Em 1989, ela começou a experimentar com a criação de pinturas que imitassem a aparência de sobreposição de uma colagem de papel, com alguns elementos escondidos atrás de outros. Seu momento heureca aconteceu quando ela usou tinta acrílica para pintar numa folha plástica transparente, e, então, usou cola e pressão para transferir seus desenhos para a tela. Às vezes, o desenho ficava imperfeito, mas ela gostou da aparência decadente que os "erros" produziam, diz. Ninguém no Brasil estava aplicando esse processo de decalque nas artes visuais e ele se tornou sua porta para o sucesso.

Ela construiu um glossário de temas para pôr e sobrepor e a exposição do PAMM irá mostrar sua evolução. No início dos anos 90, seu trabalho continha referências tribais e desenhos barrocos como babados, contas e flores; mais tarde, ela adicionou elementos da cultura popular, como corações, sinais de paz e cocares cheios de frutas que lembram sua compatriota Carmen Miranda. O mercado tende a favorecer a série de "círculos explosivos" da década seguinte, onde obras como "O Filho de Londres" gira em torno de formas parecidas com dálias florescendo.

Duas de três novas obras a serem exibidas em Miami apontam para onde Milhazes pode estar indo, principalmente "Flores e Árvores". Sem babados e frutas, essa tela evoca uma floresta por meio quase que inteiramente de círculos. Milhazes, que já foi professora de matemática, disse que "sempre houve estrutura" em seus quadros; seu trabalho novo simplesmente revela mais os andaimes.

Veja o vídeo completo sobre a maior retrospectiva da obra de Beatriz Milhazes, na exposição "Meu Bem", no Paço Imperial do Rio de Janeiro, em 2013:

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