A grande dama da arte - Tomie Ohtake

Tomie Ohtake recebendo a Ordem do Mérito Cultural em 2006, aos 93 anos

Tomie Ohtake é considerada a “dama das artes plásticas brasileiras” pela carreira consagrada, construída ao longo dos últimos cinqüenta anos, e pelo estilo ímpar de enfrentar a obra e a vida, nas quais força e suavidade têm o mesmo significado.

A fama conquistada, desde a década de 60, nunca modificou o desafio a que se propõe: o eterno reinventar.

A capacidade de renovação de Tomie está expressa nas diferentes fases de sua pintura e nas suas composições de gravura e escultura.

É dessa intenção intuitiva permanente que brotam o frescor e o esplendor de sua arte celebrada pela crítica e pelo público até hoje, com sua vigorosa produção recente.

“Sua poética ao invés de declinar, germina em outras direções e aos 89 anos, de Tomie Ohtake pode-se dizer que o outono cede espaço à primavera”, escreve o crítico Agnaldo Farias (abril, 2003).

Nascida no Japão (Kioto/1913), Tomie chega ao Brasil em 1936 e só começa a pintar aos 40 anos de idade, construindo uma trajetória como poucos artistas brasileiros onseguiram.

Os anos 60, quando se naturalizou brasileira, foram decisivos para a sua maturação como pintora originária da abstração informal. O domínio da esfera técnica de seu trabalho foi então confluindo com sua personalidade, passando a servi-la plenamente.

O controle do processo coincidiu com uma nova orientação dada progressivamente ao trabalho, segundo o qual ela foi substituindo a imaterialidade aparente de suas telas pelo estudo da relação forma-cor.

Entre formas ovais, retangulares, cruciformes, quadradas - sugerindo a idealidade de uma figura geométrica ou de um signo qualquer - colocadas isoladamente, justapostas ou em série, ficava sempre preservada a ambigüidade perturbadora entre elas e o espaço da tela. Efeito que se obtém, por exemplo, na tensão entre a forma que se agiganta até praticamente encobrir o espaço; na maneira como este espaço insinua-se pelas frestas da forma; enfim, no confronto incessante entre esses dois termos e que se acentua, já nos anos 70, quando finalmente o espaço branco é tomado pela cor e se apresenta como forma.

A linha curva, em associação a uma refinada fatura cromática, mais difusa e “cósmica”, como a ela se refere o crítico Miguel Chaia, introduz sobretudo a partir dos anos 80, novas referências ao trabalho da artista: da alusão à natureza e suas formas orgânicas; do céu às sementes; da paisagem às frutas; do sensual ao francamente sexual.

As telas, ao invés dos planos coloridos chapados, são compostas de manchas justapostas e sobrepostas, solução que as transforma em campos em transformação constante. Dos anos 90 em diante, a transparência e a profundidade se acentuam e a pintura de Tomie parece emanar do espaço sideral.

A gravura é outra técnica que a artista domina desde o final dos anos 60 e que resulta também em um trabalho extremamente maduro e inovador: faz série em grandes formatos, transforma a gravura em objeto e, ainda, recentemente, produz obras que avançam de um plano ao outro, ortogonal, criando, nesta confluência de 90 graus, um espaço novo para a sua arte.

Com este seu experimentalismo incomum para a técnica milenar, suas gravuras também ganharam reconhecimento internacional, desde 1972, quando foi convidada a participar da sala Grafica D’Oggi na Bienal de Veneza - exposição que contou com a presença dos mais importantes artistas do mundo, como os norte-americanos da Pop Art -, além de sua participação na Bienal de Gravura de Tóquio, em 1978, tradicional mostra internacional desta técnica.

Além da pintura e da gravura, Tomie tem realizado esculturas em grandes dimensões para espaços públicos e, desde a 23ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1995, quando teve uma sala especial de esculturas, vem expandindo sua produção tridimensional.

Hoje, 27 obras públicas de sua autoria fazem parte da paisagem urbana de algumas cidades brasileiras. Em São Paulo, parte delas se tornaram marcos paulistanos, como os quatro grandes painéis da Estação Consolação do Metrô de São Paulo, a escultura em concreto armado na avenida 23 de maio e a pintura em parede cega no centro, na Ladeira da Memória.

Desde a década de 60, a participação da obra de Tomie nos principais espaços da arte nacionais e internacionais se amplia permanentemente. Está presente em cinco edições da Bienal Internacional de São Paulo, conquista 28 prêmios, realiza cerca de 50 individuais e 85 coletivas, no Brasil e no exterior.

No País, torna-se um fenômeno raro, alcançando uma popularidade incomum para um artista plástico cuja obra ao mesmo tempo é respaldada pelos principais críticos de arte. Um exemplo disto foi a sua marcante primeira retrospectiva realizada no Museu de Arte de São Paulo - MASP, em 1983, quando, até então, o professor Bardi nunca havia assistido, no museu que dirigia, um sucesso tão estrondoso para uma mostra individual, quando na abertura compareceram mais de 4.000 pessoas.

Hoje, a relevância de Tomie no cenário das artes plásticas brasileiras reafirma-se na abertura de um centro cultural com seu nome, o Instituto Tomie Ohtake, homenagem extraordinária a um artista em franca produção.

“A obra de Tomie Ohtake, como trajetória íntegra e integral, tem enfrentado o desafio de construir um tempo reconciliado entre a sabedoria de uma tradição e a experiência visual do sujeito moderno. Sua obra parece buscar em nosso olhar um haicai perdido”, escreve o crítico Paulo Herkenhoff, curador do MoMA Museum of Modern Art, Nova York (setembro, 2002).

Após lutar por uma semana contra uma pneumonia, Tomie Ohtake morreu, aos 101 anos, no dia 12/02/2015, no Hospital Sírio-Libanês, na Bela Vista, em São Paulo, de um choque séptico.

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