4 mulheres brasileiras no topo do mundo das finanças

Fonte: www.istoedinheiro.com.br, por Priscilla Arroyo, em 09/03/2018

Da esquerda para a direita: Sylvia Coutinho, presidente do UBS no Brasil, Luciane Ribeiro, chefe da área de investimentos do Banco Alfa, Claudia Politanski, diretora-executiva do Itaú Unibanco, Denise Pavarina, diretora-executiva do Bradesco.Rígido, competitivo, focado em resultados e, muitas vezes, brutal. O mundo das finanças pode parecer inóspito para a maioria dos mortais. Mesmo assim, algumas executivas brasileiras estão ganhando espaço nesse ambiente majoritariamente masculino. Ao assumir cargos na cúpula do sistema financeiro, elas abrem caminho para o surgimento de mais banqueiras. Ainda há muito a percorrer. No Brasil, segundo uma pesquisa do banco de investimentos Credit Suisse, apenas 8,6% dos cargos de diretoria são ocupados por mulheres, ante 13,8% da média mundial (confira o quadro ao final da reportagem). Nas diretorias financeiras, a disparidade é ainda maior. Não há dados específicos para o Brasil, apenas para a América Latina. E a situação é desanimadora. A participação feminina é a menor do mundo. São apenas 4%, ante uma média mundial de 14,1%. Mesmo assim, nomes como Maria Silvia Bastos Marques e Sylvia Coutinho chegaram à presidência das subsidiárias brasileiras de bancos internacionais, como Goldman Sachs e UBS, respectivamente.

Alcançar o topo não é fácil. É preciso disciplina, convicção e perseverança. “Durante muito tempo eu tive de provar minha competência e trabalhei mais para conseguir o mesmo espaço que um homem”, diz Luciane Ribeiro, chefe da área de investimentos do Banco Alfa. Com 33 anos de profissão, Luciane é admirada no mercado. Mas nem sempre foi assim. Durante os primeiros anos, ela teve de, literalmente, ganhar as discussões no grito. “Nas reuniões, quando começava a falar, as pessoas não prestavam atenção e me interrompiam. Um dia, falei um pouco mais alto e percebi que funcionou. Foi assim que passei a apresentar as minhas ideias.”

Casos como o dela são uma exceção. Observe a história de Sylvia Coutinho, do UBS, que atribui seu sucesso profissional a uma formação diferenciada. “Cresci sem as barreiras da educação tradicional das meninas naquela época, e que muitas vezes vale ainda hoje”, diz Sylvia, de 56 anos. “Isso me tornou mais aberta a abraçar os riscos que me interessavam.” Quando a formação é mais “tradicional”, o trabalho tem de ser redobrado. “Fomos educadas para diferenciar os afazeres do homem e da mulher, então o processo de chegada da mulher a um cargo de liderança não é visto como algo natural”, diz Luciane.

Há outra barreira além da educação: a maternidade. O maior desafio é ultrapassar o nível da gerência. Em geral, essa oportunidade surge quando a profissional está com 30 anos. Nesse momento, projetos pessoais como abraçar um relacionamento sério e ter filhos ganham importância, afirmam as executivas que falaram com a DINHEIRO. A maioria das mulheres acha perfeitamente possível conciliar crianças e carreira. “Sou executiva e mãe e isso me torna uma profissional melhor”, diz Rocío Velarde, vice-presidente de produtos corporativos do Citibank no Brasil e mãe de um casal. “A maternidade me tornou mais objetiva, pois cada minuto que passo a mais no escritório é um minuto a menos com meus filhos.” O problema é que as empresas não concordam. “Você se sente um verdadeiro extraterrestre estando grávida na mesa de negociação. As pessoas não sabem muito bem como lidar com isso, e questionam nossa capacidade”, diz Cristina Schulman, diretora do mercado de capitais para América Latina do Santander.

Por isso, muitas profissionais talentosas optam por dar uma pausa na carreira, ou mesmo abandoná-la. Claudia Politanski, diretora-executiva do Itaú Unibanco, não só enfrentou essas dificuldades, como tem estatísticas do banco que as confirmam: 60% dos 95 mil funcionários são mulheres. Esse percentual cai à medida que se sobe no organograma. Na gerência, elas são 35%. Na superintendência, 24% e na diretoria, 15%. “O processo para chegar a uma posição de comando é quase heróico, é preciso muita resiliência”, diz Claudia, mãe de duas filhas. Se há poucas diretoras nas empresas, há menos ainda nos conselhos de administração. Entrar nesse grupo ainda é difícil. Basta perguntar a Denise Pavarina, diretora-executiva do Bradesco responsável pela gestão de R$ 630 bilhões em fundos de investimento.

Funcionária de carreira do banco, onde começou a trabalhar em 1985, ela foi a primeira mulher na diretoria executiva e só tem uma colega. “A conquista de espaço é um processo”, diz ela, que chegou a se considerar uma estrangeira no mundo das finanças. “Ainda há um certo desconforto dos homens com a presença das mulheres nas empresas, mas eles tendem a refletir cada vez mais sobre a questão de gênero”, diz. Denise é a única conselheira da B3. Também participa do conselho da Vale, onde tem mais duas colegas. Com três mulheres entre os 12 participantes, a mineradora é uma exceção. Nas companhias abertas brasileiras, a participação média de mulheres nos conselhos é de apenas 7,1%, menos da metade dos 14,7% da média mundial.

O quadro é adverso, mas é possível facilitar a mudança, seguindo os exemplos da Europa. O Santander, maior banco da Zona do Euro, é presidido por Ana Patricia Botín há quatro anos. A banqueira, que representa a quarta geração da família à frente da instituição financeira, também participa do Conselho. Os números mostram que as mudanças podem ocorrer, e rápido. A Noruega é o país com maior participação de mulheres nos conselhos, 46,7%. O segundo lugar é da França, com 34% – em 2004, esse percentual era de 7,4%. O avanço não ocorreu por acaso. Noruega e França estabeleceram cotas para mulheres nos conselhos.

“Esse avanço decorre da implementação das cotas”, diz Sandrine Ferdane, presidente do banco de investimento francês BNP Paribas no Brasil. Não é apenas bondade. Um estudo da consultoria EY de 2016, realizado junto a 22 mil empresas em 91 países, mostra que companhias com mais de 30% de mulheres nos cargos de gerência e diretoria são, em média, 6% mais lucrativas do que as com participação feminina menor. Para Luciane, do banco Alfa, os programas de diversidade são positivos, mas é preciso mais. “A implementação de cotas para cargos de comando no Brasil trará a velocidade que precisamos para promover as mudanças nesse cenário.”

É consenso entre as executivas de que é preciso alçar mais mulheres aos cargos de comando. Isso daria mais conforto para elas edificarem as suas carreiras e também contribuiria para impedir casos de assédio sexual e moral, que estão vindo à tona cada vez com mais frequência em todos os segmentos – do cinema às finanças. Na semana passada, o presidente-executivo do Credit Suisse, Tidjane Thiam, pediu desculpas a uma funcionária vítima do assédio de um colega em 2010. Ela havia contado o episódio por meio de uma carta, até então sem resposta. Thiam se comprometeu a promover uma “revisão profunda na maneira como o banco historicamente lidou com as denúncias”. É motivo de alívio – mas é apenas um começo.

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